Creamfields Belo Horizonte
15 mil pessoas em 12 horas de techno, psy e até rock no Autódromo Mega Space
No último sábado a edição brasileira do Creamfields juntou todos seus esforços numa edição única na capital mineira, Belo Horizonte, longe ainda do formato colossal da festa similar de Buenos Aires - mas um bom esforço de produção que deu um clima de mini-Skol Beats à cidade.
Tenda Eletronika
As três tendas montadas no simpático Autódromo Mega Space (Eletronika, Cream e Dimitri & Friends) juntaram público de quase 15 mil pessoas. O evento começou bem cedo (por volta das 21h) e foi acabar lá pelo meio dia com os últimos lives de psy na bonita e arborizada tenda focada no gênero, sempre cheia. O evento foi organizado pelo pool formado pelas produtoras E-Spirit, Trance Movement, Malab e Sponge, com comando geral de Luiz Eurico Klotz, um dos nomes a fomentar o já tradicional formato do Skol Beats, que é similar e contemporâneo às festas da label inglesa Cream e Creamfields.
TRÂNSITO FLUIDO
As tendas estavam próximas uma da outra, facilitando o trânsito rápido, e o soundsystem era impecável, ensurdecedor na frente da pomposa tenda Cream, que tinha o karma da área vip na frente do palco. Sem dúvida um problema para a animação da apresentação do Gorillaz Sound System, headliner que tocou logo cedo por ali.
E comprovou-se que Damon Albarn é uma pessoa bem inteligente. Além de ser ótimo músico, o ex-Blur sabe como extrair o máximo de seus trabalhos. E se transformar um desenho em uma das mais criativas bandas da década não fosse o bastante, ele criou vários sub-projetos para o Gorillaz. A versão "sound system" que se apresentou em BH era uma banda com base, percussão, VJs e um casal de MCs, que mais dançavam e pulavam do que qualquer outra coisa.
Entre "Song 2" (Blur), "19/2000" e "Dare" (do próprio Gorillaz - a última cantada ao vivo), eles tocaram "Shut Up and Let Me Go" (Ting Tings), "Creator" (Santogold) e "In da Club" (50 Cent). Divertido, apesar dos telões não terem definição ou cor para fazer do projeto algo tão surpreendente quanto prometido. Quem esperou a revolução tecnológica de um show em holograma, por exemplo, se decepcionou.
ROCK!
Na mesma hora tocava na tenda Eletronika, voltada à "experimentações" e outras miscelâneas, o jovem grupo capixaba Mickey Gang (leia nosso RADAR com eles).
frente de muita gente da disputada da cena de electro-rock nacional. Zegon
Eles são de Colatina,
interior do Espírito Santo, e possuem influências das mais variadas - incluindo uma boa dose de coisas toscas. Mesmo com formação de rock (baixo, guitarra, bateria e teclados), a banda foi um grata surpresa num festival dominado pela música eletrônica "tradicional".
Por tocarem ainda cedo (23h) num festival que ia até o meio dia (e ainda concorrendo com o Gorillaz SS), eles começaram tocando para ninguém. O que não tirou a vontade do quarteto de estar no palco, resultando gradativamente num aumento de público. As faixas começaram mais eletrônicas, com um sintetizador estruturado de forma semelhante ao Killers, porém, quando os teclados pararam de funcionar as músicas se tornaram cruas, caía num punk adolescente. E se o vocal em estúdio já lembrava um pouco o Billie Joe Armstrong (Green Day), sem os sintetizadores as faixas lembram uma mistura mais alternativa de sua banda.
Entre os hits "I Was Born in the 90's" e "We Are the Wolves", eles fizeram cover do hino das cheerleaders, "Hey Mickey", e do one hit wonder The Outfield ("Your Love"), uma delícia de road music dos anos 80. Como eles disseram em inglês nós somos o futuro, até que dava para acreditar em tal afirmação.
De volta à tenda Cream o filipino Laidback Luke fez um set divertido e curioso que misturava o prog e o pop sem pender em definitivo para nenhum dos dois lados. Tocando com um fone simples, similar a de um iPod mesmo (!), ele encheu de fato a tal área "VIP" da tenda (tinha até temaki de graça) e lançou de Fedde Le Grand a Robin S.
Deadmau5 esfumaçado
PROTO-FAMA
Numa carreira cheia de pontos altos, Zegon está próximo de alcançar o mais alto de todos com o seu projeto multi-estrelado N.A.S.A. Porém, a apresentação no Creamfields BH era solo e coube a ele angariar público num lugar que ele era outro desconhecido tocando na tenda mais alternativa do evento. E a solução encontrada pelo DJ foi fazer um set hiteiro bem aproveitado pelo público. Baltimore, Santogold, Bonde do Rolê, Rage Against the Machine, M.I.A. e cia mantiveram um bom público dançando por quase duas horas.
Ele abriu para o DVJ Mike Relm., o DJ Yoda do Creamfields BH. Muito dos vídeos e músicas que ele apresentou já haviam passado no fantástico set de Yoda no TIM - incluindo cenas de filmes clássicos da Sessão da Tarde e seriados (aprender a fazer beatbox com um personagem do "Yo Gabba Gabba" foi ótimo). Porém, por mais que o som estivesse ótimo, o telão de leds não suportava uma definição muito alta, o que dava uma ofuscada na apresentação visual e forçou o trabalho de Relm como DJ - ele desceu a mão em scratchs, e foi de Justice e funk 70s num backspin.
DO MELÓDICO AO PROGRESSIVO
Festival tem dessas, e foi estranho perceber como o beat-Kompkat e melódico de Gui Boratto foi menos festejado do que o tribal assumido de Roger Sanchez. Mais gozado ainda perceber que como uma batida, como uma seqüência uplifiting que rumavam cada vez mais ao bate-cabelo descontrol caiu bem numa festa em que a grande maioria era heterossexual. Não que tenha sido um primor, tal batida é reta, envolvente de uma forma muito barulhenta e Roger Sanchez não mostrou lá muito carisma, talvez uma expectativa velada nossa. Mas no meio de tanto baticundum fica a pergunta: e a house music "de verdade"? Não serve mais para grandes tendas de festival?
A QUE VEIO O DEADMAU5?
Na seqüência a tenda Cream recebeu ele, o grande headliner, Deadmau5 e sua cabeçona de rato. Sua apresentação não é DJ set, mas, cá entre nós, tudo que o canadense Joel Zimmerman apresentou nada mais foi que uma seqüência de músicas transpassadas por efeitos ou cortes que só eram empolgantes porque ele parecia que ia pular na cabine. [object]?
E a mistureba de camadas que vão do minimal ao electrohouse gordo e o fidget farofa é um pouco de se espantar pela facilidade (aka falta de critério). Um som que não é versátil, apenas sem identidade, que o público esperava ansioso (com direito a fãs com as cabeças de rato), mas não cativou tanto quanto o tribalzão do Roger Sanchez (impressão deduzida do volume de mãos pra cima e gritos da vista externa da arejada tenda - algo, grosso modo, matemático, mas ainda subjetivo).
Monsieur Garnier
LAURENT E O TRANCE
Da festa em BH Deadmau5 foi de helicóptero para a Xxxperience em Itu (SP) na mesma noite, e a comprovação é que realmente é muito barulho por nada. Então foi hora de conferir Laurent Garnier no asfalto da tenda Eletronika. O francês tocava driblando seu penteado de insistentes mosquinhas do calor (BH é quente, paulistas), e foi de trance. Sim, trance, na real um tech-trance hipnótico, (adoraríamos ver o tracklist) em que o BPM baixo e viajandão beirou a psicodelia, que eu não vou abreviar nem tacar um "Y" pra definir.
A pista recebeu tal som "maduro", intimista, e era interessante ver lá da frente a concentração de Laurent para manter por 2, 3 minutos duas músicas sobrepostas, e quando uma era liberada ele vibrava, bombando de leve o público e a si mesmo. Ele tocou por três horas, e curioso que na hora em que ele pesou mais a pista ficou menos cheia. Talvez inspirado pelo line-up tradicionalmente prog de uma festa Cream, Laurent conseguiu seguir a temática do evento, mas com suas boas vicissitudes. E numa festa em que dava para ir de 50 Cent a psy, esse foi um ponto alto. Que bom seria que outras capitais fora do eixo Rio - SP também tivessem seus Creamfields todo ano, prova de uma cena vasta e consolidada.
(fonte:http://rraurl.uol.com.br)